Segunda Literária no #entocados
Para abrilhantar nossa programação literária convidamos a poeta e artista plástica Dayse Kênya de Morais.
DAS DUAS, DUAS
(vem isso e aquilo)
Se é pra falar de poesia
faço sessão extraordinária;
reconvoco minha fome vária
transformo a letra precária em pura elegia.
Se é pra manchar a brancura do caderno
roubo tinteiros no inferno;
cometo algazarras bizarras
na sacrossanta extensão de meu império.
Se é pra falar da alegria do preto no branco
meu semblante é sério.
Vem, poesia!
Não faz cerimônia na antessala da agonia.
Vem pichar o muro de minha fortaleza vazia.
Vem isso:
sem anestesia nem artifício.
Faz de lamber meu fígado nu
seu grande fetiche – o ofício.
Vem Allan Poe põe tempero!
põe uma montanha-russa no parque do meu
desespero.
Depois só pra dar alívio
sopra uma vaga miragem de paraíso.
Dos espelhos de reflexos indecisos.
Vem manhã
interrompendo com sua claridade de lã
o velório que ninguém mais aguenta.
Intumesce de aquarelas minha massa cinzenta!
Vem interrogação, exclamação, reticência.
Reti...sente-se poesia
a casa é sua!
Embora sua presença chibata doa
poesia a casa é nua;
Embora uma noite de mil açoites
de uma dor que não faz ver estrelas
poesia a casa é Lua;
Embora na sala de estar retalhado
certo Frankstein de sexos dobrados
dance um tango esquisito
com terno e vestido
numa sobreposição sem sentido
não me abandone de espanto
poesia a casa é dua.
Embora todos os emboras
não vai embora.
Espera o tempo que a vida demora.
Esse grande agora...
Minha sala de estar quer mais é ser
pra te acompanhar.
Não venha com buquês meros
(mania de flor tem os canteiros)!
Basta de girassóis amarelos!
que com toda sua alegria radiante
não salvou Van Gogh do maior de seus duelos.
Traz um arranjo de espinhos
e perfure com delicadeza
a fina alvura de minha pele pergaminho.
Faz um riscado cor de vinho.
Transbordamento de tons proibidos
meus versos compridos jorram vermelhos e quentes
ferindo a impecabilidade do razoável com a audácia
quase demente.
Desejo com status de vício
- missionária paixão pelo risco
de riscar entre o papel e o precipício.
Mal vejo uma folha e pá...piro.
Abstinência faz meu império um asilo.
E se sua graça eu não souber receber direito
perdão
senhora dos meus defeitos!
É que meu coração não tem jeito;
só pra ser de esquerda
teima em bater
do lado direito.
- Dayse Kênya, no livro “O Talhe”. 2015.
♦ Poeta, ex-publicitária e artista plástica Dayse Kênya cursou Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás e apresentou “Monólogo de muitos” como seu trabalho de conclusão de curso, onde a poeta faz um mergulho na personalidade prolixa de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, que apresenta vários conflitos pessoais e de sua relação com o mundo: “Multipliquei para me sentir, para me sentir precisei sentir tudo”.Dayse tem mais de 30 premiações em concursos de poesia, desde 1989, entre eles, a participação na Antologia Nacional Gilberto Mendonça Teles, em 1993, com o poema “Fóssil agônico”, o primeiro lugar no concurso Kelps de poesia falada, em 2004, com o poema “Das duas, duas” e tem seu livro “Talhe verbal”, premiado em 2º lugar pelo concurso Novos Valores da Fundação Jaime Câmara. Em 2015 lançou 1000 exemplares de seu livro de poesias “O Talhe”, já em 2021 lançou seu mais recente livro “CEM MAIS para o momento”, ambos publicado pela Editora Kelps e muito bem recebidos pelos leitores.
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Apresentação:
“Este projeto foi contemplado pelo Edital de Arte nos Pontos de Cultura Aldir Blanc - Concurso nº 02/2021-SECULT-GOIÁS – Secretaria de Cultura - Governo Federal"
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