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Bernardo Élis: O pioneiro da literatura de Goiás no cenário nacional

Bernardo Élis foi o pioneiro que levou a literatura goiana ao cenário nacional, tornando-se um símbolo da cultura do estado. Sua obra permanece viva, inspirando novas gerações de leitores e escritores.



Registro da década de 1980 pertence ao acervo do Museu da Imagem e do Som de Goiás e faz parte do projeto Cultura em Casa
Registro da década de 1980 pertence ao acervo do Museu da Imagem e do Som de Goiás e faz parte do projeto Cultura em Casa


Bernardo Élis Fleury de Campos Curado nasceu em 15 de novembro de 1915, em Corumbá de Goiás, é considerado um dos maiores nomes da literatura goiana e o único escritor do estado a conquistar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Apesar de ter vindo de uma família de destaque — filho do poeta Érico José Curado e de Marieta Fleury Curado —, Bernardo era conhecido por sua simplicidade e até mesmo certa timidez, características que contrastavam com a força e a contundência de sua escrita.


O Autor cresceu em um ambiente literário que o influenciaria para sempre. Aprendeu as primeiras letras em casa, com o pai, e ainda criança já mostrava talento e imaginação. Em 1923, viveu um período na casa do avô materno, em Goiânia, onde frequentou o Grupo Escolar. Mais tarde, de volta a Corumbá, continuou os estudos sob orientação do pai, que sempre o incentivava nas leituras.


Seu primeiro conto, escrito aos doze anos, já revelava a sensibilidade de quem se inspirava nos clássicos brasileiros e modernistas. Mas sua literatura não se restringia à estética: ela também era uma forma de protesto. Em seus textos, Bernardo Élis denunciava o coronelismo, as injustiças sociais e as contradições da burguesia, dando voz aos marginalizados e às paisagens humanas do interior goiano.


Em 1934, começou a enviar colaborações modernistas para jornais goianos e, em 1939, transferiu-se definitivamente para Goiânia, mergulhando na efervescência cultural da nova capital. No início da década de 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro com o desejo de firmar-se como escritor. Levava consigo manuscritos de poesia e contos, mas, sem conseguir publicá-los, retornou a Goiás. Esse retorno, no entanto, foi decisivo: fundou a revista Oeste e publicou o conto Nhola dos Anjos e a cheia de Corumbá, obra que já anunciava sua capacidade de retratar o sertão goiano com autenticidade e crítica social.


Em 1944, lançou Ermos e Gerais, seu primeiro livro de contos, que obteve reconhecimento imediato da crítica nacional. Nesse mesmo ano, casou-se com a poetisa Violeta Metran, parceira de vida e de literatura. Logo depois, participou do 1º Congresso de Escritores de São Paulo, onde conviveu com ícones como Mário de Andrade, Aurélio Buarque de Holanda e Monteiro Lobato. Essa projeção o transformou no escritor goiano mais conhecido do seu tempo.


Foi o primeiro goiano a publicar obras reconhecidas nacionalmente, alcançando leitores no Rio de Janeiro e em outros centros culturais, rompendo o isolamento literário que até então marcava o estado. Sua ligação com Corumbá de Goiás era profunda: muitas de suas histórias trazem referências diretas à cidade natal, como a igreja mencionada em um de seus contos, que aparece não apenas como cenário, mas como símbolo da vida sertaneja que tanto o inspirava.

Bernardo Élis foi também professor. Lecionou em escolas técnicas, no ensino público estadual e municipal, e, mais tarde, na Universidade Federal de Goiás e na Universidade Católica de Goiás. Também foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Escritores em Goiás, da qual se tornou presidente, e promoveu o I Congresso de Literatura em Goiás, em 1953.


Além de romancista e contista — com destaque para obras como Ermos e Gerais (1944) e O Tronco (1956), este último adaptado para o cinema —, Bernardo foi também advogado, professor e ensaísta. Atuou intensamente na vida cultural, fundando revistas, participando de congressos e promovendo encontros literários em Goiás e no Brasil.


Em 1975, foi eleito para a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, sendo o único goiano a alcançar esse reconhecimento. Para críticos como Mário de Andrade, Bernardo tinha o dom de transformar a realidade em ficção de maneira tão vívida que sua “realidade inventada” se tornava mais forte do que a própria vida real.


Respeitado dentro e fora de Goiás, Bernardo Élis consolidou-se como o escritor mais reconhecido de seu tempo. Sua obra permanece como um retrato crítico e poético da vida sertaneja, da luta contra as estruturas de poder e da riqueza cultural goiana, garantindo-lhe um lugar definitivo entre os grandes nomes da literatura brasileira do século XX.

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