Teatro Goiânia: história viva entre arte, arquitetura e mistério
- Débora Resendes
- 1 de ago.
- 2 min de leitura
Entre fatos históricos e lendas urbanas, o Teatro Goiânia segue sendo muito mais do que um espaço de espetáculos — é um símbolo vivo da memória, da arte e da arquitetura da capital. Cada detalhe, dos palcos à estrutura em forma de navio, carrega um pedaço da identidade goianiense.
Teatro Goiânia: o palco que testemunhou o nascimento da capital
No cruzamento das emblemáticas avenidas Anhanguera e Tocantins, em pleno centro da capital goiana, ergue-se uma das maiores referências culturais do Centro-Oeste: o Teatro Goiânia. Inaugurado em 14 de julho de 1942, em plena construção da nova capital de Goiás, o espaço não foi apenas um marco arquitetônico — ele representou o nascimento simbólico da vida cultural da cidade.
Projetado pelo arquiteto Jorge Félix e integrado ao conjunto urbano original idealizado por Pedro Ludovico, o prédio exibe com orgulho as linhas do estilo Art Déco, tão presente na identidade visual de Goiânia. Seu design, curioso e imponente, traz elementos que remetem à estrutura de um navio, com formas que lembram escotilhas, proa, popa, convés e linha de flutuação. Um teatro que, mais do que palco, é metáfora.
Pensado desde o início para abrigar espetáculos de grande porte, o Teatro Goiânia foi inaugurado com pompa. Em sua primeira noite, recebeu autoridades, incluindo o próprio interventor federal Pedro Ludovico Teixeira, e exibiu a superprodução hollywoodiana “Divino Tormento”, da Metro-Goldwyn-Mayer. Poucos dias depois, o palco foi tomado pela Companhia Eva Todor, com a comédia "Colégio Interno", marcando o início das atividades teatrais da cidade. Aquele momento ficou conhecido como o "Batismo Cultural de Goiânia".
Com capacidade atual para 836 pessoas, o teatro mantém o traçado clássico do estilo italiano, com palco frontal à plateia, boca de cena bem definida e uma caixa cênica com impressionantes 23 metros de altura. Ao longo das décadas, já recebeu óperas, peças dramáticas, dança contemporânea, concertos sinfônicos e manifestações populares, consolidando-se como um dos mais respeitados palcos do país.
Mas o Teatro Goiânia também é cercado de lendas. Uma das mais conhecidas fala sobre um suposto túnel secreto que ligaria o teatro diretamente ao Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual. Segundo o coordenador do espaço, Marco Antonini, essa história teria surgido no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando o país temia possíveis ataques e buscava alternativas de fuga para autoridades. “Nunca foi comprovado, mas faz sentido pela época. Dizem que seria usado para fuga, mas o espaço é tão pequeno que mal caberia uma pessoa”, brinca ele.
Após mais de meio século de uso contínuo, o teatro passou por uma grande obra de restauração e foi reinaugurado em 28 de dezembro de 2010. A noite solene foi marcada por um concerto emocionante com o barítono Renato Mismetti e o pianista Maximiliano de Brito, acompanhados pela Orquestra de Câmara Goyazes.
Tombado como Patrimônio Nacional em 2003, o Teatro Goiânia não é apenas uma joia da arquitetura modernista brasileira, mas um espaço onde a memória da cidade se entrelaça à arte, à cultura e às histórias — reais ou imaginadas — que ajudam a formar a alma de Goiânia.
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