Dos campos de terra do Criméia Leste para a seleção brasileira
Dei, Valdeir, Siriri, Calunga, The Flash, Valdeir Celso, nasceu em uma família humilde na Vila Nova. Aos cinco anos de idade mudou para o Criméia Leste para a Rua Senador Antônio Martins Borges onde a sua mãe mora até hoje. Esta entrevista foi realizada na casa dela. Começou de forma descontraída, debaixo de uma mangueira, pão de queijo caseiro feito pelo meu pai e com a presença importante do amigo Otoniel Regis; mais conhecido aqui no Criméia como a “enciclopédia do futebol de várzea da região”. Valdeir , hoje com 41 anos, morou nesta casa até 1989 quando saiu do Atlético Goianiense para rodar o mundo jogando futebol, chegando inclusive a fazer 27 jogos pela seleção brasileira.
Hoje casado, com duas filhas, mora no setor Bueno aqui em Goiânia. Vem sempre ao Criméia onde geralmente toma o café da manhã e almoça com a mãe. Nesta entrevista, buscamos fazer uma viagem onde falamos desde os tempos do futebol de várzea no Criméia, da sua ida e saída do Atlético para o Botafogo, outros clubes, Seleção e do Bordeaux da França onde jogou durante três anos com Zidane. Lembramos com saudade daquele tempo, do pião, da finca, garrafão, golzinho, futebol de várzea e da rua onde passamos parte da nossa infância (morávamos em casas uma de frente pra outra). De origem humilde, Valdeir continua o mesmo: uma pessoa simples, mesmo tendo conquistado a sua independência financeira jogando futebol com os principais craques da sua época no Brasil e no mundo.
Durante a entrevista, realizada na segunda quinzena do mês de maio de 2010, rimos muito das histórias do futebol de várzea, nos emocionamos, falamos da seleção retranqueira do Dunga, dos clubes goianos e de como o futebol foi importante para mudar a vida da sua família. Bom, espero que todos leiam esta entrevista, desarmados, porque Deí, apelido de infância, continua o mesmo moleque de sempre, a mesma pessoa discreta e controlada financeiramente; mesmo quando não tinha dinheiro. Em alguns momentos o entrevistador também se deu o direito de expor parte da sua história, já que esta, na infância, se mistura um pouco com a de Valdeir, e isto ocorre logo no início, quando Valdeir, na sua simplicidade, acabou me entrevistando ao lembrar da nossa infância.
Quem não achar interessante pode pular esta parte, sem nenhum problema. O Jornal Criméia é dirigido especialmente à comunidade, por isto procuramos aprofundar situações locais, mas ficamos felizes em saber que as entrevistas que estamos fazendo estão repercutindo bem em Goiânia.
Boa Viagem a todos
Carlos Pereira, maio de 2010
Jornal Criméia – Valdeir, o que te mais te marcou aqui no Criméia?
Valdeir -O que marcou no Criméia foi a rua: Rua Senador Antônio Martins Borges. Esta rua nossa aqui era boa demais, na sua casa era o quê, você, o João, o Petrônio, o Léo que prá mim é Geraldo (risos), o Paulinho a Ana e o Ricardo o seu irmão mais novo. Dona Santa o seu João. Eu conheci o Léo como Geraldo....aí, quando cresci, eu falava: que Léo (Publicitário Léo Pereira) é este cara? Os meninos falavam: Léo, Léo, eu não conheço Léo nenhum. Você Carlão, a gente que era mais novo chamava de “Carlão maluco”.
Otoniel – Até hoje
Valdeir – Mas é. Esse cara tinha aquelas roupas de hippie, cabelão grandão e mexia com teatro.
Carlos- Joguei bola. Fiz gol cara. Joguei na Natal Jr. Era um centroavante tipo assim, o Loco Abreu do Botafogo, um pouco mais técnico. Saia rompendo tudo. Parei de sonhar com o futebol cedo, aos 16 anos, fui fazer teatro. Em conversa posterior com o Damas que jogou com Valdeir no time do Véi Badú. Ele me disse que naquele jogo aqui no terrão do Criméia, o time de vocês perdeu de 4 x 0 para o time do Samim, e eu fiz os quatro gols, e dei até boné… tava infernal neste dia que você também estava no jogo e teria inclusive errado um pênalti. Esta foto de você neste time de meninos foi ele que me arrumou. A única coisa que lembro é que fiz os quatro gols e depois fui convidado pelo Véio Badu para jogar no time dele e joguei algumas partidas. Depois passei em uma peneira do Goiás. Fiz dois gols, lembro que era terrão ainda, mas nunca mais voltei. Esta do Goiás, o meu amigo Manel Bezerra confirma. Peço desculpas, mas não resisti em contar esta história. Vamos ao entrevistado.
Valdeir - (Valdeir continua lembrando da sua infância). Aí nós viemos para cá, a minha turma era eu o Petrônio, seu irmão que é mais ou menos da minha idade. (Fala dos meninos da época, o Elias, Valdo seu irmão que já morreu).
Carlos - O seu irmão Valdo que era mais meu amigo, mais velho que você e da minha idade. Qual a importância que ele teve na sua vida?
Valdeir – O Valdão pra mim é importante até hoje. Eu sofro muito, no mês de abril (mês da morte de Valdo) e no mês de dezembro. Dia 14 de dezembro é o aniversário do Frederico, o primeiro neto da minha mãe. Fiz de tudo pra ele jogar bola, mas ele não quis. O negócio dele era cavaquinho, quem toca o pagode nas minhas festas é ele.
Jornal Criméia – Falando em jogar bola. Como é que começou isto na sua vida?
Valdeir - Joguei golzinho nos campos de terra do Criméia, na rua. O cara que nunca jogou golzinho, nunca vai ter malandragem com a bola (ri). Tem um amigo meu que joga com a gente na chácara, e você vê que nunca jogou golzinho. Não tem malandragem , não tem ginga nenhuma.
O Criméia – Você acha que o fim dos campos de terra foi ruim para o futebol?
Valdeir – Atrapalhou muito. Eu vejo por este lado. O campo de terra tinha muita gente da rua, da malandragem. Aqui no Criméia você tem antes e depois do fim dos campos de terra. Para uns foi bom, mas para o futebol foi ruim.
Jornal Criméia – Antigamente se revelava muita gente aqui no Criméia. Você, o Falcão no Vila Nova, o Du do Goiânia, O Delci no Monte Cristo, são algumas pessoas da região que eu convivi ou joguei bola. Quem mais você lembra que jogava bem na sua época?
Valdeir – Eu estive conversando com o Otoniel (a enciclopédia do futebol de várzea do Criméia Leste). Nós conversamos 5 minutos e listamos mais de vinte craques da região que não tiveram oportunidades no futebol.
Jornal Criméia – Há quanto tempo você não vê novas revelações no futebol aqui no Criméia.?
Valdeir – É difícil Carlão. Eu até fui cobrado para fazer este tipo de trabalho aqui, mas é complicado. Hoje nem espaço adequado tem pra fazer isso, não há mais campos disponíveis no Criméia. Outra coisa é que a garotada de hoje em dia já não gosta tanto de bola como gostava antigamente.
O Criméia – Como você vê esta questão do futebol moderno, do fim dos campos de terra?
Valdeir – Deveria ter criado alternativas. Eu sou até suspeito em falar, porque praticamente a minha vida toda foi dentro de um campo de futebol. O meu estudo, Graças a Deus, foi graças a minha mãe, que sempre fez de tudo para que eu estudasse.
Mas eu acho que teria que ter criado alternativas, até porque não poderia ter acabado simplesmente com os campos de terra. Era nos campos de terra que surgiam os grandes talentos.
Jornal Criméia – Como começou a sua história no Atlético Goianiense, o seu primeiro time profissional. Como é que você sentiu que a bola poderia te dar uma vida melhor?
Valdeir – Foi através do amor pela bola. A minha mãe nem sabia que eu estava treinando no Atlético. A verdade é essa. Ela ficou sabendo que eu tava treinando no Atlético no dia do conselho de classe (risos). Teve um conselho de classe no colégio, a professora de educação física disse a ela: o seu filho vai tomar bomba nesta matéria porque ele não frequenta as aulas. Aí que ela ficou sabendo da minha história no futebol. Eu tinha treze para catorze anos.
Jornal Criméia – Como foi isto, quem te levou para o Atlético?
Valdeir – Eu fui após ouvir comentários que ia ter peneirada lá.
Jornal Criméia – Mas naquela época, há 30 anos, o Criméia Leste (abaixo da pecuária) tinha muito mato. O Estádio Antônio Accioly em Campinas era longe.
Valdeir – Pra menino, naquela época, tudo era perto. Fiz três peneiradass pra conseguir o objetivo de passar em uma delas. Nas duas primeiras eu fui reprovado. Na terceira acharam que eu era muito pequeno, mas que tinha condição de jogar. Foi o que aconteceu. Saia do Criméia ia a pé para a avenida 24 de outubro em Campinas, feliz, contente.
Jornal Criméia – Você ia sozinho?
Valdeir - Ah....ia eu, o Joãozinho, aquele menino, outro que jogou no Ouro Verde (time de Valdeir no futebol de Várzea do Criméia), o Demi que infelizmente não está entre nós. Depois , só ficou eu. Eu fui reprovado em duas peneiras e continuei insistindo porque eu queria era aquilo, jogar futebol. Acho que a pessoa tem que lutar pelos seus objetivos. Uma pessoa que me ajudou bastante foi um olheiro do Flamengo, que depois veio a ser treinador das categorias de base do Atlético, o Mineiro. Ele viu que eu tinha condição de crescer e quis que eu ficasse no clube.
Jornal Criméia – A sua família era de poucos recursos, como a minha na época. Você já sentiu fome alguma vez na sua vida?
Valdeir - Dificuldade a minha família sempre teve. Mas graças a Deus nunca passei fome porque o meu pai, mais conhecido como Zé Gasolina, nunca me deixou faltar comida. A dificuldade era demais, só no final de ano é que eu ganhava um presentinho diferenciado. Como aqui em casa eram cinco filhos, juntamente com a minha mãe, então eram sete bocas pro meu pai tratar. Graças a Deus eu tive uma educação, a minha mãe, o meu pai, foram maravilhosos e souberam contornar todas as dificuldades financeiras que a gente tinha na época.
Jornal Criméia – O seu pai era pintor né.
Valdeir. Era. Pintou muitas casas aqui no Criméia. Graças a Deus sou feliz por falar isso aí porque foi através da pintura que meu pai pode criar toda a família. Então eu valorizo bastante isso aí.
Jornal Criméia – Esta transição das peladas no campo de terra, do golzinho na rua foi feita por você mesmo ou você teve ajuda?
Valdeir – Eu sempre gostei de futebol. Na época (final da década de 70 e) Gostava de assistir aos jogos no campo de terra no Criméia, hoje Praça Vicente Sanches.
Eu era pequeno, moleque. Ficava atrás do gol pegando bola quando ela saía de campo, mas sempre com aquela vontade de tá lá dentro, de um dia estar jogando e outros pegando bola pra mim. Então um belo dia, uma situação até complicada, foi uma das poucas vezes que eu vi o Zé Gasolina chorar (pai do Valdeir). Eu falei pra ele: pai, um dia o senhor ainda vai me ver chegar a seleção brasileira.
Aí ele disse: “vai mesmo meu filho” tenta realizar o seu sonho quem sabe você consegue. Ele ainda não sabia que eu já estava treinando nas categorias de base do Atlético. A minha mãe é que contou a história pra ele, aquela da escola. Ela queria que eu saísse do Atlético para estudar. O meu passe disse: não, ele vai ficar. O meu pai e o Valdo (irmão mais velho já falecido) me apoiaram, me incentivaram a continuar jogando nas categorias de base do Atlético. Foi assim que aconteceu.
Graças a Deus as coisas foram se encaminhando e eu consegui realizar o sonho do meu pai em 91. Foi o meu primeiro jogo no Estádio Serra Dourada com a camisa da Seleção Brasileira. Este dia vi o Zé Gasolina chorar. Foi um dia marcante, emocionante aqui nesta casa onde a minha mãe mora até hoje.
Eu já estava no Botafogo. Tinha jogo no final de semana. Eu pedi pra ficar em casa em Goiânia porque eu queria curtir aquele momento com a minha família, foi uma festa muito boa, marcou a minha vida.
Jornal Criméia – Você tem ciência do que aconteceu, ou seja, de que o futebol mudou a vida da sua família?
Valdeir – É! (se emociona). Mudou bastante.
Tudo que eu tenho hoje eu devo ao futebol. Primeiramente a Deus, porque foi Deus que me deu a condição de poder jogar futebol.
Naquela época, quando eu era adolescente, o futebol era mal visto pelas famílias, era lugar de mau elemento. Hoje não, as pessoas já enxergam o futebol de forma diferente. O futebol hoje pode melhorar a vida de muita gente. Hoje, a maior parte dos pais influencia bastante para que a criança jogue futebol. Hoje o futebol é uma profissão e tanto. Naquela época ainda não era assim como é hoje.
Jornal Criméia – Voltando a falar do futebol de várzea aqui no Criméia. Você se lembra desta frase “Carma garoto, você é jovem”... (risos)
Valdeir- Este é o nosso amigo Papá, o Panariz (mais velho que nós – uma figura de pessoa). Eu vejo o Panariz hoje e fico feliz. É um cara assim de uma natureza maravilhosa. Eu chamo ele até hoje de “garoto”, porque ele foi um garoto e tanto, e vai continuar sendo. Uma pessoa humilde, sem maldade. Este tipo de pessoa é bom sempre ter perto da gente.
Jornal Criméia – Como era a cena mesmo do “Papá” que ficou famosa no Criméia Leste naqueles tempos do futebol de várzea?
Valdeir – Antes de começar o jogo ele falava assim: “Carma garoto que você é jovem,joga do outro lado” (risos). Na hora do jogo, você ia passar por ele e ele esticava o braço e repetia a frase e finaliza: “Aqui é o Papá meu jovem, já te falei”. (Muitas gargalhadas).
Jornal Criméia – E o Marcinho Bacalhau, também aqui do Criméia, amigo nosso, hoje assessor de imprensa do Goiás. Você lembra dele jogando bola?
Valdeir – (Risos). O Marcinho Bacalhau era mais velho que eu. Eu lembro dele assim mais ou menos. Ele era da turma do meu irmão Valdo, da sua Carlão, do Édson, desta rapaziada que tem a sua idade hoje. Sou 3 anos e meio mais novo que você. Nesta época da vida, adolescência; 3, 4 anos faz muita diferença. Mas eu tenho lembrança do Marcinho. Já estive com ele algumas vezes. Como pessoa sempre foi um cara legal. Fico feliz por ele está onde está. (pausa para risos e histórias do futebol de várzea contadas por Otoniel Régis, a enciclopédia do futebol da região). Muitas risadas, é claro.
Jornal Criméia – Hoje ele é o Márcio bacalhau, assessor de Imprensa do Goiás.
Valdeir – Bom, muito bom isso. Eu já tive a oportunidade de falar com ele por telefone algumas vezes. Tô devendo uma visita a ele. Uma pessoa que sempre me tratou muito bem.
Jornal Criméia – Bom você cresceu no Atlético. Foi para o Botafogo, Bordeaux da França e chegou a Seleção Brasileira. Que jogadores você jogou? o que mais lhe vem à memória deste tempo?
- Valdeir – Eu recordo muito bem de uma frase de um amigo meu, o Zé Maria, roupeiro do Botafogo. Foi uma amizade maravilhosa, até hoje a gente tem contato. Quando eu cheguei no Botafogo ele me falou: “ Olha meu amigo, mais vale uma boa amizade do que o dinheiro, porque o dinheiro acaba”.
O futebol me proporcionou muito isso. Várias amizades. Graças a Deus eu sou muito bem quisto por onde eu passo. Fiz ótimas amizades. Tenho amigos pra tudo quanto é lado, esparramados em todo o mundo..
Jornal Criméia – Quantos times você jogou?
Valdeir – Uns 14. Atlético Goianiense, Botafogo, Bordeaux da França, Flamengo, Fluminense, São Paulo, Atlético Mineiro, Paraná, Ceará, Madureira, Brasilense, Bayern de Munique da Alemanha e outros que não me vem à memória agora.
Jornal Criméia – Tenho uma pergunta aqui do Adolfo Campos do Show de Bola Difusora, meu companheiro de trabalho, um dos comunicadores mais criativos que já vi. Ele diz o seguinte: Calunga, como foi jogar com o Zidane no Bordeaux da França? Um abraço do Romildo Silva e do Zé Henrique. Tudo de bom Valdeir.
Jornal Criméia – O Adolfo disse ainda que o Zé Henrique, quando foi jogar no Atlético, aproveitava da sua rapidez e dizia: vai Calunga que eu fico. Porque Calunga?
Valdeir – É porque na época que o Zé Henrique foi para o Atlético eu tava com 18 anos. Ficava no quarto com o Zé Henrique e o Ticão. O Zé Henrique, já encerrando a carreira, e o Ticão também. Aprendi bastante com eles. Aí, como eu gostava muito de um personagem do Chico Anísio chamado Calunga, imitava o personagem aí o apelido pegou. Foi o Nogueira, um zagueiro que teve no Atlético. Aí o Zé Henrique aproveitava da minha juventude, é claro. Hoje em dia não, os moleques estão muito abusados. Se pedir alguma coisa, até na pelada, eles acham ruim. Fiz uma amizade muito grande, faz isto aquilo, busca um café. Eu ia de coração aberto, com o maior carinho, o maior prazer. E o Adolfo participou disto aí porque na época ele trabalhava na TV Anhanguera, fizemos uma amizade muito boa, somos amigos até hoje, o Romildo, o Adolfo, este pessoal todo é um saudade muito grande. Quando der jeito quero encontrá-los novamente pra gente colocar a conversa em dia.
Jornal Criméia – Quando surgiu o nome The Flash? Foi na época do Botafogo né.
Valdeir – O The Flash surgiu em 90. Eu tava no Botafogo e íamos disputar o título carioca contra o Vasco. Na época o Vasco era chamado de selevasco porque tinha muitos jogadores que jogavam na seleção Brasileira. E o Botafogo era um time humilde que tinha sido campeão em 89 depois de vinte e um anos. Nós estávamos disputando o bi-campeonato e fomos bi-campeões em cima da selevasco através de uma jogada minha junto com o Carlos Alberto Dias, uma jogada de velocidade que conseguimos fazer o gol do título.
Jornal Criméia – Mas quem lhe deu este nome? The Flash.
Valdeir – Se eu não me engano, foi um jornalista da Globo, acho que era o Januário de Oliveira. Aí o Galvão Bueno espalhou para todo o país.
Jornal Criméia – Quantos jogos você fez pela seleção?
Valdeir – 27 convocações. Participei de todos os jogos, mas só entrei de cara em 14. Os outros jogos fiquei no banco e entrei no decorrer da partida. E, infelizmente, durante este tempo todo aconteceu de tudo, bola na trave, pênalti sofrido por mim na hora que ia fazer o gol, mas não bati. Infelizmente não consegui fazer nenhum gol com a amarelinha da seleção.
Jornal Criméia – Nenhum? Você ficou frustrado por jogar na seleção e não ter feito nenhum gol?
Valdeir – Não, pelo contrário. Só de ter chegado naquela camisa ali. Ter conseguido jogar pela seleção, não pode ter frustração não, porque aquela ali muita gente quer e não consegue chegar lá. Eu cheguei graças a Deus. Pra mim foi muito bom ter jogado na seleção.
Jornal Criméia – Valdeir, antes de falar da seleção do Dunga eu queria te fazer uma pergunta. Hoje você está bem de vida. E as pessoas que te ajudaram nesta história? você se preocupa com elas hoje, procura saber como elas estão?
Valdeir - Olha Carlão, eu vou falar uma coisa pra você. Teve uma época no Rio de Janeiro. Infelizmente hoje está virando realidade. Surgiu até de uma brincadeira. É aquela situação: se o filho é bonito, todo mundo é pai. Todo mundo quer ser pai depois que o filho é bonito. Então isto foi mais ou menos o que aconteceu durante a minha trajetória. Infelizmente eu não tenho como mudar o mundo, mas também não vou ser igual as pessoas ruins. Teve muitas pessoas que me ajudaram, porque você não vive e não consegue nada sozinho. Então, na medida do possível, a gente procura retribuir tudo que foi feito. É claro que é difícil. Até porque teve pessoas lá no passado mesmo que já não estão entre a gente, que me ajudaram bastante. Porque eu comecei a minha vida no futebol indo a pé do Criméia até Campinas para treinar no Antônio Accioly, e muita gente não sabia disso, nem minha mãe e nem o meu pai. Era uns 40 minutos em passadas rápidas.
Jornal Criméia – No Atlético e no Criméia, quem te ajudou no início, quando você entrou para as categorias de base do Dragão?
Valdeir – Lá no Departamento de esporte do Atlético tem ainda algumas pessoas da minha época. No criméia tem muita gente. Uns com conselhos, outros de outra forma, mas foram pessoas muito importantes na minha vida. Nas minhas amizades era todo mundo simples. Eu nunca fui de estar em uma classe social alta.
Jornal Criméia – Eu lembro do Black. Ele viajou contigo para muitos lugares.
Valdeir – Ah, o Black é um cara que eu considero irmão. Ele morou comigo uns dez anos. Na França, em Curitiba, no Rio, em São Paulo, Minas. Ele teve um momento difícil, mas graças a Deus, já está convivendo com a gente novamente. Mas resumindo, dentro das nossas possibilidades, aqueles que me deram incentivo, que me ajudaram, a gente procura retribuir.
Jornal Criméia – Você tem uma relação assim meio distanciada do Criméia. Te chamaram pra jogar no Canto do Rio, o time da nossa Ong Criméia Comunitária, você acabou deixando. Você vem muito à casa da sua mãe que nunca quis sair daqui mas não tem vida comunitária. Por que?
Valdeir – Eu sempre tive amizade, se você fizer um apanhado geral, como é o Valdeir, eu sou um cara tímido. Na época que me chamaram para o Canto do Rio, o finado Letão, (professor Letão –Técnico – morreu neste ano atropelado na Goiás Norte na divisa dos Criméias) que Deus o tenha em um bom lugar; o Nereu sempre me convidava pra participar, mas eu sempre tinha outros compromissos. Um era com o Show Bol da Sport TV. Eu tinha contrato de preferência. Também tinha o meu time da chácara, formado também por amigos meus de infância. Então era complicado. Uma coisa que eu nunca gostei, foi de marcar um compromisso com uma pessoa e não cumprir, porque eu não quero que façam isso comigo. Então eu procuro ter boas amizades. Marcar e nunca poder jogar, o pessoal ficar esperando, iria criar uma situação muito chata. Mas joguei, se não me engano, umas 4 vezes no time em jogos festivos.
Jornal Criméia – E a sua convivência no Criméia. Muita gente acha você um pouco esnobe?
Valdeir – No Criméia. Continuo comprando carne na Casa de Carne Natal. Tem o Bilela. Tô sempre por aí. Um ponto de encontro era no Letão, conversava muito com ele, trocava ideias. Mas eu sempre fui muito caseiro e, depois que eu constituí família, fiquei ainda mais. Venho todo o dia na casa da minha aqui no Criméia.
Jornal Criméia – O Juninho da Hocus Pocus, diz que você tinha um hobbie de trocar gibis. Qual o seu hobbie hoje?
Valdeir – Na minha infância gostava muito de gibis e jogo de botão. Brincar na rua. Jogar finca, peão, garrafão, etc. Infelizmente essa molecada que está vindo hoje não vai ter esta oportunidade de viver o que nós vivemos. Brincadeiras sem maldades. Hoje a malandragem tá muito grande. Deixar uma criança na rua hoje é complicado. Eu hoje gosto de ter tranqüilidade.
Vou pro meio do mato. Não sou muito de pescar. Gosto de estar reunido com os amigos, contando piadas, churrasco. Eu gosto muito de música, de todo tipo. Sou eclético, sertaneja, pagode. Morei mais de 10 anos no Rio de Janeiro. Até há pouco tempo ainda tinha imóvel lá. Gosto de tudo um pouco: músicas antigas, tudo que é bom eu gosto. (começa a lembrar histórias da sua infância, entre elas a da égua do Madereira, que ele montava à noite, galopava e quando o madêra ia por ela na carroça esta estava muito cansada). Muitas risadas. (Otoniel, a enciclopédia do Futebol de Várzea da região, também contas algumas e a risada é geral. Estas histórias ainda vão ser contadas aqui no Criméia com o título: Piadas e histórias do Futebol de Várzea).
Jornal Criméia – Esta história de sua mãe ter ficado aqui na mesma casa onde você passou a sua infância. Você chegou a comprar um apartamento pra ela morar na região Central mas ela bateu o pé e ficou aqui. Isto acabou sendo bom pra você?
Valdeir – Eu sempre fui um cara respeitador. O meu sonho era dar uma condição de vida pra minha mãe e eu sempre lutei pra isso.No dia em que eu quis dar a casa, ela me disse: “não quero sair do Criméia não, aqui eu me sinto bem aqui conheço os vizinhos ”. Mas foi bom. Eu tô sempre aqui. E mesmo eu vindo aqui quase todo o dia, tem gente que fala que eu abandonei o Criméia. infelizmente você não consegue agradar todo mundo. Se a minha mãe não estivesse aqui, acho que eu estaria no sal (risos).
Jornal Criméia – Você é feliz hoje?
Valdeir – Sou. Sou feliz demais. Deus me deu um dom maravilhoso através do futebol. E consegui com isso várias amizades. Muitas pessoas me perguntam: ficou rico? Eu digo, rico de amizade eu sempre fui. Tenho uma família maravilhosa, constitui uma família maravilhosa, tenho duas filhas lindas. E a minha mãe transmite uma felicidade muito grande. Eu beijo minha mãe e meu pai sempre, porque eles souberam criar a gente. Eu tenho como espelho os meus pais. Todo mundo é unido em casa. Não tem divergência, briga, todos gostam de ficar juntos. Então é isso que eu procuro passar pra minha família. E eu sou feliz demais.
Jornal Criméia – Vamos falar da seleção brasileira. A Seleção do Dunga está sendo muito criticada, como você vê essas críticas? Como diz Adolfo Campos. Um monte de batedor de canela e um meia que é meia atacante?
Valdeir - Existem dois lados desta história para responder esta pergunta. Tem o caminho bom e o ruim, se eu for olhar pelo lado ruim eu vou olhar como torcedor. Pô cara poderia ter levado um atacante, um meia ofensivo, levou muito volante, muita marcação, nós vamos sofrer muito se algum atacante machucar. Este é um lado ruim. O lado bom, até porque eu convivi com o Dunga, com o Jorginho na seleção, conheço o caráter dos dois. Hoje eu brinco futebol, tem a minha pelada na chácara que eu organizo junto com o meu irmão. Então eu jamais deixaria os guerreiros de fora da minha pelada. Aqueles que estão comigo na chuva, no sol, estão comigo para o que der e vier, pra mim colocar um cara de verão, vai lá no dia que que, é ruim. Então é mais ou menos o que eu acho que o Dunga fez. quando ele pegou a seleção, muita gente não queria ir, e os que foram grudaram na mão dele e seguraram a barra. Agora na hora de comer o filé ele afasta estes e leva outros. Então são dois lados. Eu mesmo queria que a seleção fosse mais ofensiva, mas respeito o Dunga.
Jornal Criméia – Vou te apertar agora, se você fosse o técnico da seleção, levaria o Neymar e o Ganso dos Santos?
Valdeir – É uma situação delicada porque esta pergunta que está sendo feita agora, não foi feita no início do ano, quando a seleção ainda estava em atividade. Se você fizer uma auto-análise, é a mesma coisa de um empregado. Como ele vai ter experiência se ele não começar a trabalhar. Então é a mesma coisa do Ganso e do Neymar. Ah! São novos e craques. São novos e craques mas precisam primeiro ter experiência na seleção, e eles não tiveram, antes de entrar de cara em uma convocação para a copa do mundo.
Jornal Criméia – O Pelé e o Ronaldo foram com 17 anos.
Valdeir – Mas eles já tinham passagem pela seleção antes de serem convocados para a copa do mundo.Você não pode ter erro em uma copa do mundo. Se você tiver erro...
Jornal Criméia – Você não convocaria então o Neymar e o Ganso.
Valdeir – Não é que eu não me convocaria. Se eu pudesse, eu levava todo mundo. (risos)
Jornal Criméia – Valdeir, Valdeir...deixa de enrolar a gente. Deixaria ou não o Neymar e o Ganso de fora.
Valdeir – Se fosse técnico, não ficaria em cima do muro não. Eu ficaria com o Dunga. Não convocaria.
Jornal Criméia – Você defende a seleção do Dunga?
Valdeir – Eu defendo com algumas restrições. Poderia ter aí espaço para duas ou três modificações. Na ala esquerda, André Santos, o Marcelo do Real Madrid. No gol o Vítor do Grêmio. Acho que estes entrariam na minha seleção.
Jornal Criméia – E o Ronaldinho Gaúcho e o Adriano? Levaria ou não?.
Valdeir – Ah! estes eu levaria, mesmo com todos os problemas eu levaria. Eles têm peso na história do futebol mundial. Seriam muito importantes para a seleção.
Jornal Criméia – Você acredita na vitória da seleção? Ela não é parecida com a seleção retranqueira que o Dunga jogou? e
Valdeir – A Copa de 94 eu bati na trave para ir nela. De 90 a 93 eu estava praticamente em todas as convocações. O meu último jogo pela seleção foi contra o Uruguai: dois gols do Romário e eu estava no banco no Maracanã. Na véspera da convocação da Copa do Mundo de 94 eu tinha sido emprestado do Bordô ao São Paulo para disputar o mundial e aí eu tive um problema de pubalgia, parecido com este do Kaká, e fiquei de fora da seleção. O Palhinha, o Evair, o Renato Gaúcho, muitos jogadores ficaram de fora. Também não tenho nenhuma frustração em não ter ido à copa. É claro que se eu tivesse participado e ganhado uma copa, seria mais completa a minha história no futebol, mas tudo o que eu consegui no mundo da bola, me deixa muito feliz.
Jornal Criméia – Na seleção e nos clubes, com quais jogadores você jogou que você mais lembra?
Valdeir - Joguei com muita gente boa. Na seleção de 94 que ganhou a copa do mundo joguei com todos: Taffarel, Romário, Bebeto, Ricardo Rocha, Renato Gaúcho. Tive a oportunidade de jogar com o Careca na seleção. Com o João Paulo, Moser, e quase todos eles, o próprio Dunga, o Jorginho me ajudaram de alguma forma. O Bebeto me ajudou bastante, aprendi muito com ele. Eu acho que a virtude do ser humano é saber ouvir e eu, Graças a Deus, soube ouvir.
Jornal Criméia – Futebol Goiano. Você esperava que o Atlético, depois de uma longa crise fosse ressurgir das Cinzas e ter hoje a estrutura que tem. Na primeira divisão encarando o Goiás de frente e superior ao Vila Nova?
Valdeir – Eu comecei no Atlético em 82. Fiquei lá até 89. Já vi muitas coisas no Atlético. Eu esperava, porque eu já vi no Atlético uma lona dentro do campo, mais de trinta caminhões de terra no campo e não ter onde treinar. A gente ia treinar em Abadia de Goiás, nos campos do Morro do Além. Eu já vi tantas coisas no Atlético que o que está acontecendo hoje não é novidade, até porque existem várias pessoas competentes no Atlético. Esta diretoria do Atlético é muito competente. Muitas pessoas que estão presentes lá eu conheço. O seu Álvaro, o Valdivino (presidente), conheço todos eles e sei do potencial e da honestidade das pessoas que continuam no Atlético. E a tendência do Atlético, se continuar com este trabalho sério, é só melhorar.
Jornal Criméia – E o Goiás? Como você está vendo este momento difícil do time?
Valdeir – Todo time tem fases boas e ruins. Uns demoram mais, outros menos. Mas o Goiás tem uma estrutura muito boa, uma das melhores do Brasil. Daqui a pouco isto passa e o Goiás volta a crescer e ser o clube grande que sempre foi.
Jornal Criméia – Você acha que o Atlético pode superar o Goiás?
Valdeir – Não, não. O Goiás é um exemplo para o Estado. Está há muito tempo à frente dos outros clubes daqui. Eu torço é para que o Vila Nova possa acompanhar o Atlético, o Goiás, que o Goiânia também ressurja das cinzas como o Atlético.
Jornal Criméia – Porque o Vila Nova não consegue se estruturar?
Valdeir – A política do Vila é diferenciada. A partir do momento que esta política que existe no Vila modificar, os dirigentes olharem com outros olhos, a tendência é melhorar, até porque no Vila tem pessoas maravilhosas, que tem uma índole boa. Eu agradeço a Deus por ter conhecido essas pessoas. Quase toda a minha família é vilanovense.
Jornal Criméia – Você torce pra quem?
Valdeir – Ah! Eu fico em cima do muro (risos). Depois que eu me tornei profissional eu torço só para o meu time da pelada mesmo.
Jornal Criméia – Mas antes de ser profissional qual era o seu time de coração?
Valdeir – Se eu não torcesse pro Vila o meu pai me puxava de um lado. O meu padrinho me dava roupas do Goiás e eu preferi ir para o Atlético pra ficar no meio dos dois. Mas hoje eu torço pro futebol goiano. E torço muito para que o Vila suba cada vez mais.
Jornal Criméia – Ê Vila. E o Goiânia? tem jeito de ressurgir das cinzas como o Atlético?
Valdeir – O Atlético entrou em crise devido à ciumeira. Tinha muito ciúme dentro do Atlético na época que eu jogava. Uns diretores queriam de um jeito, outros diferentes. A partir do momento que se uniram, o Atlético virou o que virou e a tendência é melhorar cada vez mais. E o Goiânia também pode ter esta capacidade. Tem muitas pessoas competentes no Goiânia. Eu lembro muito bem quando eu disputava o campeonato goiano em 89. Disputando a artilharia por um carro. Foi o primeiro carro doado pela Saga para o artilheiro. Graças a Deus eu tive a oportunidade de ganhar este carro, brigando com o Guga, centroavante do Goiânia. Este Guga sempre me falava coisas maravilhosas do Goiânia, que tinha a Vila Olímpica que era longe, que hoje tá dentro de Goiânia. A capital cresceu muito. O time parece que tem muitas dívidas, mas isto também aconteceu com o Atlético. Então é preciso que o Goiânia se organize e busque sair desta situação.
Jornal Criméia – Nesta história do futebol quem você lembra mais? Quais jogadores foram mais importantes na sua vida?
Valdeir - Como profissional eu aprendi muito. Teve pessoas que me ajudaram bastante. Na educação um casal me vem à memória, que Deus os tenha. Moravam no Atlético.
A Dona Eva e o seu Ataídes. Eles revelaram o Baltazar, Gilberto, jogadores que marcaram época no Atlético. Foram pessoas que me ajudaram demais. Como ser um atleta, já que a vida do profissional de futebol é muito curta.
Já dentro de campo eu aprendi muito com o Nélio que jogou no Vila e no Atlético. Eu comecei como volante, achava que era o meu caminho, aí, eu louco pra jogar pensei: “aqui mesmo tá bom”. O treinador precisava e eu queria jogar de qualquer jeito.Mas eu sempre gostei de jogar como atacante. Jogando como volante o
Nélio me ensinou muito dentro de campo. Ele me falava “oh! Moleque vai chegar a um certo ponto da sua carreira que você vai correr menos, vai jogar mais e cansar pouco, muito menos do que você cansa hoje”, porque você vai saber encurtar o campo, conhecer os atalhos do jogo”.
Então isto foi uma coisa que o Nélio me ensinou. Aprendi com muita gente. As pessoas falam muito mal do Renato Gaúcho. Eu defendo porque ele foi um irmão pra mim. Foram quatro anos jogando juntos. Dois anos no Fluminense e dois no Botafogo. Uma pessoa maravilhosa que teve também a mesma missão que eu tive de ajudar a família, é uma pessoa maravilhosa. Aprendi muito com ele. Lá fora eu tive a ajuda do Zidane. Era muito difícil pra mim, sozinho ir para a frança sabendo falar só o português, se não tiver ajuda o cara fica maluco. Agradeço a todas estas pessoas que passaram na minha vida.
Jornal Criméia – Como é a sua vida hoje? Do que você vive?
Jornal Criméia – Eu procurei investir o dinheiro que eu ganhei com o futebol, fazer uma base, um alicerce bem feito. Até porque a carreira de jogador é muito curta e eu sabia que um dia ia acabar. Queria fazer Educação Física, mas acabei trabalhando no ramo imobiliário, tô aprendendo ainda, mas tô me sentido bem nesta área. Penso ainda em fazer o curso de Educação Física. Tudo que eu sou hoje foi fruto da ajuda dos meus pais e irmãos, Agradeço a Deus pela família que eu tenho.
Jornal Criméia – Valdeir foi muito boa a conversa , como tradicionalmente o Criméia faz, fica reservado a você um espaço pra você falar o que tiver vontade.
Valdeir – Como esta entrevista é feita especialmente para a comunidade do Criméia Leste e região. Eu acho que cada um pode fazer a sua parte pra melhorar o que acha que tem que ser melhorado. Não adianta você ficar em cima do muro e ver a vida passar, esperando somente que as coisas caiam do céu. Gosto de divulgar a Criméia. Digo a todos que é um bairro legal, com muita gente boa e vocês do Jornal o Criméia com este veículo que tem nas mãos também podem incentivar a melhorar o bairro. Acho que é isto, cada um fazendo a sua parte, dentro das suas possibilidades, a tendência é melhorar o bairro ainda mais. O Criméia é um bairro muito próximo ao Centro, a gente não pode deixar as coisas ruins tomarem conta. Não podemos deixar a marginalidade tomar conta do Criméia. Eu tenho certeza que muitas pessoas que moraram aqui sentem falta do Criméia. Aquele Criméia antigo, das peladas no campo de terra, das brincadeiras sem maldade, todo mundo sente falta. Aquele Criméia sem violência, sem prostituição, sem drogas. Então a gente pode melhorar isso aí Carlão. Eu posso, você pode, o Otoniel pode. É a gente pegar e levantar o nome do Criméia Leste. Levar o nome do Criméia Leste lá fora. Muitas pessoas não conhecem, perguntam: onde é que fica? O Criméia Leste fica abaixo da Nova Vila e da pecuária. Se você for a pé para o Centro é rapidinho. Eu até brincava muito com os amigos que vocês têm e eu tenho em comum também. Falava: Adolfo Campos faz uma visitinha ao Criméia pra você ver o tanto que é bom o Crimeinha. (Adolfo já esteve no Criméia algumas vezes). O Criméia Leste é muito bom. Então a gente elevar o nome do bairro, até porque nossas famílias continuam aqui. Se não unirmos, estamos no sal. É isso aí Carlão, Otoniel só agradecer mesmo.
Fato pitorescos do Futebol profissional contado Por Valdeir :
Valdeir - Estava jogando no Fluminense, passei a ser o capitão do time porque o Renato Gaúcho tinha machucado o joelho. O treinador era o Jair Pereira. Ele tinha sido treinador do Flamengo onde ganhou a Copa do Brasil em cima do Goiás. Ele reuniu todo mundo em uma preleção. A gente tá em uma situação complicada. Tínhamos que ganhar o jogo pra classificar para a semifinal do campeonato carioca. E tinha um atleta que era o palhaço do grupo. Ele se chamava Darci. O Jair chamou todo mundo para um bate-papo pertinho um do outro pra sentir o clima. Aí o Jair colocou o quadro dele, a prancheta e começou a mexer as pedrinhas. “Tá vendo aqui gente, aqui é nossa vida, o nosso prato de comida. Tá vendo aquela luzinha no final do túnel. Nós temos que buscar ela com força e trazer para dentro de campo pra gente ganhar o jogo. Aí o Darci levantou o dedo. O Jair perguntou: O que você deseja Darci? – O Darci disse: professor, a gente tem que tomar cuidado pra esta luzinha não ser um trem que vai pegar a gente. Risos. Final da Entrevista e muitas outras histórias do Futebol de várzea contadas por Otoniel Régis, a enciclopédia do Futebol de Várzea do Criméia Leste e Região.
Apresentação:
“Este projeto foi contemplado pelo Edital de Arte nos Pontos de Cultura Aldir Blanc - Concurso nº 02/2021-SECULT-GOIÁS – Secretaria de Cultura - Governo Federal"....
Comments