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SINVAL FÉLIX, UMA VIDA DEDICADA À LUTA COMUNITÁRIA

Foto do escritor: Carlos Pereira Carlos Pereira

Atualizado: 11 de out. de 2022

Estamos caminhando para a conclusão deste primeiro projeto virtual da plataforma #entocados da A Toca Coletivo. Coube a mim a tarefa de resgatar histórias do Jornal Crimeia criado pelo amigo Sinval Félix que nos deixou em 14 de maio de 2018. O Jornal Crimeia, que teve 95 edições nos mais de 20 anos de existência, registrou vários eventos dos envolvidos nos projetos da A Toca Coletivo. De certa forma, A Toca Coletivo nasceu no Crimeia Leste, onde agora está instalada fisicamente. Depois de muitas ricas histórias registradas aqui na plataforma, trago nesta terça de resgate do Jornal Crimeia, textos da última edição, uma especial em homenagem a Sinval Félix. Através desses textos, é possível entender como era feito o jornal e conhecer um pouco mais quem era Sinval Félix que, durante toda a sua vida, se dedicou à luta comunitária.

Carlos Pereira


O Jornal Crimeia criado pelo nosso amigo Sinval Félix, há mais de 20 anos, é um veículo de comunicação de grande importância para a comunidade do Crimeia Leste. Com esta, são 95 edições. Infelizmente nosso amigo Sinval nos deixou no dia 14 de maio de 2018 durante a feitura da edição passada. Pedimos a várias pessoas que escrevessem algo sobre esta figura tão importante para a comunidade. Parte dos textos enviados foram publicados nesta reedição na plataforma #entocados. Esta é apenas uma pequena homenagem àquele que foi grande em defesa da vida comunitária. Agradecimento especial a todos que, de uma forma ou outra, escreveu, anunciou, mandou fotos, ou simplesmente apoiou a circulação deste registro histórico.

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O jornalista e líder comunitário Sinval Félix, 60 anos, editor geral do Jornal Criméia, faleceu nesta segunda-feira, 14 de maio de 2018, após um ataque cardíaco. Sinval era daquelas pessoas que se dedicavam intensamente à vida comunitária. Petista, defendia o ex-presidente Lula com fervor e ficou muito abatido com a sua prisão. Trabalhou na gestão do ex-prefeito de Goiânia Pedro Wilson, entre 2001 e 2004, desenvolvendo atividades no Programa Orçamento Participativo. Influenciado pelo jornal Crimelão, jornal de bairro também do Criméia que teve bastante repercussão na década de 70, idealizado pelo hoje publicitário e proprietário da loja de sebos Hocus Pocus, Luiz Fafau, criou o Jornal Criméia que aos trancos e barrancos, com anúncios dos comerciantes da região do Criméia Leste, estava chegando perto das 100 edições. O seu sonho era fazer uma grande festa na centésima edição. Não deu tempo. Sinval era muito querido no Criméia Leste. O Jornal Criméia era importante porque dava identidade às pessoas da região. No Jornal eram contadas histórias dos pioneiros, entrevistas com personagens do bairro, momento cultural, Nossa Gente Boa, Coluna do Crimeildo, espaço para as religiões, cultura, crônicas e artigos. Sinval Integrava ainda o Conselho de Saúde do bairro Criméia Leste. Inquieto, resolveu voltar a estudar. No ano passado fez o ENEM e conquistou uma vaga no curso de Jornalismo da Faculdade Araguaia. Sinval deixa dois filhos e três netos.

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Carta aos amigos do amigo Sinval

Carlos Pereira

Conhecia Sinval Felix desde menino, mas passei a conviver mais com ele nos últimos 10 anos quando me procurou para ajudá-lo em uma entrevista. Na época, era repórter da Rádio Difusora de Goiânia. A entrevistada era uma senhora simpática de quase 100 anos, a Dona Maria Parteira, que nas décadas de 60 e 70 fazia partos no Criméia e região. Naquele dia senti que nossa parceria iria progredir, só não esperava que seria interrompida de forma brusca com a passagem dele exatamente um mês após a passagem da minha mãe, dona Santa, um duplo golpe do universo comigo. Mas já aprendi: a gente leva tombos nesta vida para redirecionar caminhos.

Naquele dia, me encantei com a entrevista, com Dona Maria Parteira e com o Jornal Criméia, idealizado pelo "menino sonhador" Sinval Félix. A possibilidade de poder contar histórias e dar identidade para as pessoas de uma região onde cresci e aprendi a viver me seduziu. De repente, emocionado, no meio da entrevista, Sinval lembra que tinha nascido nas e das mãos de dona Maria Parteira. Daí nasceu o título da primeira entrevista que fizemos juntos para o Jornal Criméia: “Maria Parteira, a mãe de muitos filhos do Criméia Leste”.

Desde então, contamos muitas histórias de pessoas da comunidade, entre elas: “Márcia, uma mulher de respeito”, “Nonô, um crimeiense da gema”, “João Ferrin e a história do futebol de várzea do Criméia Leste”, Seu Hilário, um baiano arretado”, “O Goiás voltou”, “Fróes e a charge em Goiás”, Ipácio, futebol à moda antiga”, “A casa de flores na calçada da rua”, “Valdeir, O The Flash”, “Pocotó e o meio ambiente no Criméia”, “Seu Magno, reciclando a viva”, Dino Limongi e o início do Motociclismo em Goiânia”, “Marciano e o samba de raiz”, “Padre Alcides, Irmã Margarida e Irmã Fernandes”; “Léo Pereira, o Terrorista da Palavra”, “João Lico e Dona Santa, reinventando a vida”, “Festival Juriti de Música e Poesia Encenada”, entre outras tantas histórias.

Criamos também quadros fixos como as histórias do Seu Moacir que nos deixou há pouco tempo também. Ricardo Edilberto e suas crônicas do Crimeia onde contou várias histórias de personagens e situações que ficaram impregnadas na sua memória de infância. Publicação de poesias e crônicas de moradores do bairro, dica de leitura da Hocus Pocus e muitos outros quadros ou colunas como a Nossa Gente Boa que tem o único objetivo de colocar as pessoas no Jornal já que muita gente reclamava de ainda não ter aparecido no Jornal Criméia, e ainda reclama, uma espécie de coluna social da comunidade,

Sinval, que nos deixou repentinamente, quando estávamos finalizando a edição 94 do Jornal Criméia, era daquelas pessoas que se dedicavam intensamente à vida comunitária. Petista, defendia o ex-presidente Lula com fervor e ficou muito abatido com a sua prisão. Trabalhou na gestão do ex-prefeito de Goiânia Pedro Wilson, entre 2001 e 2004, desenvolvendo atividades no Programa Orçamento Participativo e sempre travava longas batalhas com os moradores da região em defesa do PT, da presidente Dilma Rousseff e do presidente Lula. Fez isto até o fim da vida, nunca abandonou o apoio ao PT mesmo criticando alguns caminhos que o partido tomou.

No Jornal Criméia, não se importava de correr atrás de pequenos anúncios e ficar ali, com paciência para receber. Às vezes, trocava o anúncio por um objeto, um serviço, uma cerveja. Outras vezes ficava sem receber e seguia a vida sonhando com o crescimento do Jornal Criméia. Esta é uma realidade que muitos não sabem, ou fazem de conta que não. Fazer um jornal de bairro é muito difícil. O desgaste é muito grande, o lucro é muito pequeno, mas Sinval, mesmo com todas as dificuldades seguia firme, meio assim descontrolado, do jeito dele, mas firme no seu propósito de continuar fazendo o Jornal e outros jornais de bairro.

Sinval era muito querido no Criméia Leste. O Jornal Criméia é um veículo importante porque dá identidade às pessoas da região. No Jornal são contadas também histórias dos pioneiros, entrevistas com personagens do bairro, momento cultural, Coluna do Crimeildo onde ele falava dos problemas do bairro. Espaço para as religiões, cultura, crônicas e artigos. Sinval integrava ainda o Conselho de Saúde do bairro Criméia Leste. Inquieto, resolveu voltar a estudar. No ano passado fez o ENEM e conquistou uma vaga no curso de Jornalismo da Faculdade Araguaia.

A história do Jornal Criméia começou com a influência de outro jornal do bairro, o Crimelão, que teve bastante repercussão na década de 70, nos anos de chumbo da ditadura militar. Entre outros amigos da época, o jornal foi idealizado pelo hoje publicitário e proprietário da loja de sebos Hocus Pocus, Luiz Fafau, parceiro do Jornal Criméia. Amigo de Fafau, Sinval criou o Jornal Criméia que, aos trancos e barrancos, com anúncios dos comerciantes da região do Criméia Leste, chegou perto das 100 edições. O sonho de Sinval era fazer uma grande festa na centésima edição do Jornal Criméia. Por um capricho do destino, não deu tempo pra ele. Esta é a edição 95, uma edição especial e final do Jornal Crimeia em homenagem ao amigo Sinval.

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Crônicas do Crimeia

Ricardo Edilberto


Sinval e o Corel Pau

Quando comecei a trabalhar com publicidade, no início dos anos 90, o Corel Draw era o programa de design gráfico do momento. Todo mundo queria brincar de diretor de arte com aquilo e eu entrei nessa onda também. Já no final dos anos 90, mano Léo me puxou para trabalhar em sua agência, a Verbo Comunicação. À época ele dizia que eu estava dividido entre a direção de arte e a redação, mas que logo escolheria a segunda opção. Previsão não muito difícil já que nunca consegui desenhar uma linha reta ou um círculo redondo. E foi nesse meio tempo que conheci o amigo Sinval.

Sempre sonhador, Sinval se dividia entre o Jornal Crimeia, o desejo de ser representante da associação de bairro do Crimeia e outros projetos crimeienses. Juntamente com outro amigo, Cláudio Elias (Pitoca Júnior), entrei em algumas dessas lutas com ele e, pelo que sei, o Jornal Crimeia foi a de maior êxito. Como eu dominava um pouco o programa, Sinval sempre me pedia dicas e eu acabei diagramando algumas edições com ele.

O tempo foi passando, a falta de habilidade nos desenhos foi cada vez mais me levando à redação, o Crimeia foi crescendo, os amigos se afastando... mas Sinval e o Corel Draw acredito que não mudaram muito e passaram a vida juntos fazendo o Jornal Crimeia. Sinval continuou sendo o amigo sonhador. O Corel Draw parece mesmo não ter evoluído, perdeu espaço no mercado e, em função das inúmeras travadas, recebeu a alcunha carinhosa de Corel Pau.

Mais recentemente, Sinval ganhou a adesão de mano Carlos na feitura do jornal. Entre as diversas discussões dos dois, vira e mexe aparecia o questionamento de que o Corel Draw estava ultrapassado. Sinval não admitia essa afronta e, sempre que eu estava por perto, dizia que eu o havia ensinado e pedia minha concordância sobre a eficiência do programa. Não sei muito bem o que eu respondia nessa saia justa... acho que não respondia kkkkkkkkkkk, mas agora tenho a resposta: escrevendo essas mal traçadas linhas concluo que – por todos os risos que essa história toda proporcionou à minha mente – mano Carlos e Sinval eram a dupla perfeita; Corel Pau, o melhor programa da história da computação; e ainda bem que me tornei redator, como previu mano Léo.

—------------------------------------------------------------------------------------------------------------Homenagens ao Sinval

Sinval Júnior

Perder um pai é conhecer uma dor sem igual. É ver partir um pedaço grande e importante da nossa existência. É descobrir uma saudade que nunca mais terá fim.

Dói muito perder um pai. Dói muito saber que aquele que tanto amamos e admiramos fechou para sempre os olhos. E dói ainda mais saber que nunca mais sentiremos o calor do seu abraço.

Meu pai, você partiu para sempre deixando para trás um rastro de desoladora saudade, que eu sei, será eterna. Meu pai, eu lhe devo tanto e para sempre lhe ficarei devendo, pois você partiu cedo demais, sem ao menos eu lhe ter dito tudo o que queria.

Houve dias em que eu não lhe telefonei para lhe dizer que o amo, para lhe agradecer por tudo, e tudo o que eu não disse, todos os beijos e abraços que ficaram por dar, me assombram agora, dia e noite.

Eu sei que você sabia, que onde agora está você sabe o quanto eu te amei e amo, mas fica sempre o amargo do que não foi dito e feito, pois a saudade é tão pesada, tão dolorosa...

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Zé Corredor (83 anos)


O Sinval pra mim, foi um grande amigo. Pra mim, ele não morreu. Ele continua vivo na nossa memória. Na memória dos moradores do nosso Criméia Leste. Porque todos gostavam do Sinval. Pelo fato dele gostar muito do bairro e das pessoas do bairro. Da luta dele pelo desenvolvimento e por melhorias para o bairro. Sinval fazia isto. Se ele fosse um político, um vereador, um deputado, ele traria grandes benefícios para o bairro. No Sinval eu acreditava. Estamos sentindo muita falta do Sinval. Já teve na minha casa, me entrevistou e me divulgou contando a minha história como corredor no Jornal.

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Cristina da Escolinha

Sinval Felix, sou grata a cada momento que passamos juntos. Obrigada por sua amizade, pelo seu apoio, sua fidelidade ao PT, pela sua força que você deu na minha eleição para o Conselho Tutelar e também na de presidente do Conselho Local de Saúde. Pra mim você é um exemplo de amizade e humildade, de coragem. Uma pessoa de coração de ouro. Descanse em paz amigo.

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Homenagem do Conselho Local de Saúde

Sinval Felix era um amigo sempre presente no bairro e adjacências. Membro ativo do Conselho Local de Saúde do Criméia Leste. Sempre um companheiro entusiasmado. Um parceiro de lutas e muito humano.

Mesmo sabendo que um dia a vida acaba, nós não estávamos preparados para perder você Sinval. Sentimos uma tristeza enorme, profunda com a sua partida. Ficamos tristes em não poder, pelo menos agradecer a sua boa vontade, seu trabalho, em agradar a todos a sua volta. Sentimos gratidão por ter participado de momentos de diálogos, discussões e alegrias na conquista de objetivos do Conselho de Saúde Local. Foi muito produtivo, enriquecedor e aprendemos muito com você e conquistamos muitas coisas com a sua ajuda Sinval Félix que sempre colocou o Jornal Criméia à disposição do Conselho Local de Saúde.

Ficam as lembranças de nossas reuniões e restam saudades eternas para lembrar a falta que você fará para toda a nossa comunidade. Obrigada Sinval Félix. Gratidão por tudo. Continuaremos a sua luta amigo.

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente , antes que a cortina se feche e a peça termina sem aplausos”.

Charles Chaplin.

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Apresentação:





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