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O comedor de vidros

 Por Ricardo Edilberto


A Crônica de hoje remete à infância de Ricardo em volta do campo de terra no Crimeia Leste um senhor, conhecido como Xerife, pelo menos nos olhares infantis, nos bares em em volta do campo, comia vidros.



Boa Leitura!


O comedor de vidros



Penso que era assim: no tempo em que os prédios do Crimeia não alcançavam mais que o tamanho de um modesto sobradinho; que o meu pai podia "cabritar" o leite das vacas - que caminhavam tranquilas pela Rua Sebastião Fleury Curado - para completar o sustento da família; no tempo em que a Sebastião Fleury Curado era de mão dupla e quase não se ouvia o ronco dos carros como acontecia e noite nos dias de hoje; nesse tempo, quando a praça ainda era palco dos torneios de futebol, quando os vizinhos conversavam mais, se cumprimentavam mais, se conheciam mais, virava e mexia apareciam personagens insólitos, que expandiam o espírito inventivo do meu ainda pequeno cérebro em construção. Certa vez, a história de um desses personagens chegou aos meus ouvidos. Lembro de escutar meus irmãos comentando algo do tipo: "Caralho, o cara come vidro!" Foi mais ou menos assim que ouvi falar do Xerife pela primeira vez. E a incrível história do comedor de vidros passou a instigar minha imaginação a ponto de eu jamais esquecer, apesar de nunca tê-lo visto comendo um caquinho de vidro sequer. Cheguei a observá-lo andando pelo setor, minha memória confusa guardou a imagem de um chinês com o rosto ornado por um cavanhaque alourado. Mas, sinceramente, pode não ser nada disso. O fato é que, seja lá que aparência fosse a sua, tal homem existia. E pra não deixar minha memória alucinando sozinha, obtive o relato do meu irmão, João Gilberto. Tomando umas com o amigo Paulinho da Viola (do Crimeia) em um boteco, ele disse ter presenciado o Xerife mastigando um copo. Tudo indica que o homem não engolia os vidros, mas deixava tudo bem trituradinho. De qualquer forma, neste caso, a realidade não importa tanto. O que importa, mesmo, é que na minha cabeça ele foi e sempre será "o comedor de vidros", mais um personagem que emerge dos tempos de infância pra povoar nossa mente de bons pensamentos.






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