Seu Moacir, pai do Fafau, Junin e Paulin da Hocus Pocus, que nos deixou em dezembro de 2016, foi morador antigo da região do Crimeia Leste, era um contador de histórias nato. Conversando com Fafau, fiquei sabendo que ele tinha um livro escrito à mão, onde registrava estas histórias. Aí não deu outra, nasceu mais um colaborador para o Jornal Crimeia. São várias as histórias do seu Moacir publicadas no Jornal Crimeia, muitas de suas lembranças aqui do bairro, outras inventadas por ele como a que traremos nesta terça-feira publicada na edição do Jornal Crimeia em março de 2016: “Bicho também faz sacaneagem”.

Bicho também faz sacanagem
Quando os bichos falavam, houve uma reunião de toda a bicharada lá na cidade deles com o chefe dos bichos, que logicamente, era o Leão. Pois então. O Leão mandou o compadre urubu e o macaco convidarem toda a bicharada para a festa na cidade dos bichos. O Leão estava fazendo a festa para comemorar suas bodas. É claro que era ela quem estava pagando todas as despesas.

Como a boca era livre, veio a bicharada toda da região, todos animados e bem alegres. O Sapo foi o primeiro a chegar na casa do Leão e foi recebido com muita alegria. O Leão logo ofereceu um brejinho para ele e sua família se acomodarem e dormirem um pouco. Logo mais chegou o Grilo e o Leão disse “você também vai para o brejinho, Grilo. Vai fazer companhia a sapolândia”. E eram muitos os sapos, todos fazendo barulho e tomando banho no brejinho perto da lagoa dos Patos.
E assim foi chegando toda a bicharada e o Leão cuidando de acomodar a todos. Uns ele mandou para o Hotel Matos. Os bichos do campo foram para o Hotel Jaraguá, outros para o Hotel Colonião, outros para o Hotel Braquiara, outros para o Hotel Cerrado e assim por diante. O Leão acomodou todos os seus convidados naquele dia, que era um sábado, véspera da festa. Quando foi no domingo o Rei Leão reuniu todos os seus convidados para uma corrida. Uma corrida com todos os bichos. O Rei Leão tirou a sorte para ver quem corria primeiro. O Sapo e sua família foram os primeiros escolhidos para começar a corrida. Era sapo que não acabava mais, de tudo que e jeito e tamanho: sapinho, sapão, sapo adolescente, moché, cururu...

E o Rei Leão foi tirando a sorte para definir a ordem de cada um na corrida. A turma da lagartixa, da tartaruga, da lesma, do jabuti (que não é da turma da tartaruga) e de todos os outros. Foi separando também por grupos. Tinha a turma do mato que era o veado, a onça, o caititu, a cobra etc. Tinha a turma do Cerrado com o lobo, a raposa, o coelho, o tatu etc. E assim foi, a turma dos bichos do campo, do cerrado, da água, do ar etc. Todos os sorteados para a competição. Todos iam correndo em grupos e junto com suas famílias. Quem ganhasse levava o prêmio e dividia com a família.
Depois de tudo pronto, sorteado, organizado, conversado, o Rei Leão deu a partida para começar. Os primeiros eram os sapos. A regra da competição era correr e quem chegasse primeiro no final da reta tinha que subir em uma grande tora de madeira. Quando o Rei Leão gritou um-dó-lá-si-já a sapaiada saiu em disparada. Pula daqui, pula dali, sapo pulando na cabeça do outro, uma confusão danada. Quando os primeiros sapos chegaram ao final da reta e firam a tora de madeira começaram a pular para subir no pau. E pula e escorrega e esborracha no chão. E a bicharada gritava “pula, sapo” e caiam na gargalhada. Nenhum sapo conseguiu subir na tora. Acontece que o macaco, muito do safado, tinha passado cera de abelha na tora e ficou parecendo um pau de sebo.
Moral da história: até os bichos fazem sacanagem.
Apresentação:
“Este projeto foi contemplado pelo Edital de Arte nos Pontos de Cultura Aldir Blanc - Concurso nº 02/2021-SECULT-GOIÁS – Secretaria de Cultura - Governo Federal".

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