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Foto do escritorCarlos Pereira

70 ANOS DE SAMBA DE RAIZ

Atualizado: 5 de dez. de 2023

Marciano, o Colher de Ouro e Pandeiro de Prata


Marciano Rodrigues de Oliveira nasceu em Olímpia (SP) em 05 de fevereiro de 1932. Aos nove anos veio para Goiânia, voltando para São Paulo aos 18 anos. Na terra natal trabalhava como pastilheiro e à noite, fazia parte do conjunto Garotos do Samba formado por ele, Dori Queti, Pedro (falecidos), e Zé Rosa. Permaneceu por lá durante seis anos. Durante este tempo, casou-se com Maria Misael, mais conhecida como dona Lia. Com ela, teve três filhos: Mariozan, Gerson e Nilva; e 4 netos: Hebert, Ricardo, Rafael e Rodrigo. A volta para Goiânia ocorreu um ano após o casamento. Aqui, Marciano trabalhou como pedreiro, tapeceiro, mestre de obras e taxista. Sem deixar de lado a música, cantava e tocava pandeiro nas noites goianas. Chegou, com a família, em 1970 no Crimeia Leste, indo morar na avenida Fuad Rassi, onde está até hoje.


Seu Marciano, como é chamado pelos amigos do Crimeia, aos 79 anos, curte a aposentadoria com alegria. Além de tocar no conjunto Amigos do Samba, Marciano tem outro prazer: a pesca e o bate-papo com os amigos. Por ele moraria na beira dos rios, pescando, cantando samba e jogando conversa fora. Assim é seu Marciano de Oliveira, conhecido no meio artístico como Colher de Ouro e Pandeiro de Prata. Para os amigos de pescaria, o apelido é outro: Piau. Conheça a história deste pandeirista e sambista de primeira que, além de fazer samba na terra dos sertanejos há mais de 50 anos, é sempre visto no Crimeia Leste jogando conversa fora, molhando a palavra e fazendo um sambinha gostoso, seja nos bares ou nas residências dos amigos.


Sinval Félix (Outubro de 2011)

Jornal Crimeia - Quando começou a sua paixão pelo samba?



Marciano - A minha paixão pelo samba começou quando eu tinha 15 anos, porque antes meu pai não deixava cantar e nem jogar futebol em cidades vizinhas à Olímpia, como Guarapuava e São Joaquim da Barra. Só depois que completei 15 anos é que pude viajar com o conjunto e aí não parei mais. Meu primeiro instrumento foi um pandeiro que ganhei do meu pai no meu aniversário. Ele me perguntou o que eu queria e falei na hora: Pandeiro.



Jornal Crimeia - Como você aprendeu a tocar, teve alguma influência, alguém te ensinou?



Marciano - Não. Aprendi de ouvido como dizem por aí. Foi muita dedicação e perseverança. Sempre gostei de tocar instrumentos. Além do pandeiro, toco violão também. Tive a influência do meu pai que era músico. O pandeiro aprendi observando as rodas de samba e prestando atenção nos batuques que ouvia. De noite eu ia às rodas de samba e prestava atenção nos tocadores de samba e de dia, em casa, praticava. Assim começou a minha trajetória no samba e lá se vão mais de 60 anos.


Jornal Crimeia - Como surgiu o grupo Amigos do Samba e como é esta história?



Marciano - Os Amigos do Samba eram um trio formado por Juvenil, Loi e Dengo. Depois entrou Zerique que me convidou para fazer parte do grupo e eu aceitei. Com o passar do tempo, saiu Loi e entrou Leo. Mais tarde entrou Milton que tocava acordeon. Com a morte de Dengo em 2008, voltou o Loi. Em 2009 Milton faleceu e não colocamos mais ninguém. Depois o Leo saiu e entrou o Zé Nilton, filho do Dengo. Hoje o grupo é formado por Juvenil, Marciano, Zerique, Loi e Zé Nilton. Aí já vão mais de 40 anos de participação efetiva do conjunto.



Jornal Crimeia - Vocês fizeram muitos shows. Conseguiram viver de samba?



Marciano - Fizemos shows em muitas casas noturnas de Goiânia e no interior do estado de Goiás. Na capital tocamos nos clubes Jaó, da Engenharia, Oasis e AABB. Tocamos também no Castro's Hotel, Casa 84, Degraus. No Crimeia Leste fizemos dois shows, os dois para o nosso amigo querido, o Letão.


Jornal Crimeia - Então o samba era um complemento, o senhor não conseguiu viver só de música?



Marciano - Não. Não fazíamos parte do esquema das grandes gravadoras e isso nos deixava de fora da questão comercial. Eu, por exemplo, sempre tive que trabalhar em outra atividade para sobreviver. Fui mestre de obras e, muitas vezes, Sinval, o seu pai, o saudoso Sebastião, trabalhou comigo. Um exemplo disso foi no Clube Jaó, onde trabalhamos juntos lá por 20 anos e fizemos várias obras que hoje compõem o clube.



Jornal Crimeia - E o restante do grupo, também tinha outras atividades?



Marciano - Nenhum viveu exclusivamente da música. O Juvenil é bancário aposentado, Leo e Loi são fiscais arrecadadores; Zerique é funcionário do INSS e Milton era proprietário da empresa Estrutural do ramo de ferragens. Apesar de não termos ganho dinheiro com a música, fizemos grandes amizades e é isso o que importa.



Jornal Crimeia - Gravaram LP, CD ou DVD?



Marciano - Gravamos um CD mas não foi feito para ser comercializado. Alguns foram vendidos Cada integrante ficou com 100 cópias para fazer o que quiser. No CD, cada integrante do conjunto canta duas músicas.



Jornal Crimeia - Apesar de ter nome de um ritmo, o conjunto tocava só samba?



Marciano - Não. Tocamos todos os ritmos. Samba, bolero, sertanejo. Os nossos shows são muito alegres e dançantes. Fizemos muitos bailes na época que era moda este tipo de evento, principalmente em cidades do interior.



Jornal Crimeia - Como é fazer samba em Goiânia?



Marciano - É muito bom. Aqui não tem só sertanejo. temos muitos bons sambistas na capital e que mereciam ter mais apoio do poder público. Precisamos de mais divulgação na mídia. Muita gente confunde samba com pagode. É diferente. Somos músicos da velha guarda do samba como os Demônios da Garoa, Anjos do Inferno, Titulares do Ritmo, Quatro Ases, Um Coringa, entre tantos outros. Mesmo assim, tocamos músicas pedidas pelo público que não fazem parte do nosso repertório.


Jornal Crimeia - Como é de praxe no Jornal Crimeia. Dê o seu depoimento final e fale o que te der vontade.



Marciano - O que tenho a dizer é a grande satisfação de ter vivido tudo isso. Só fiz amizade e não me lembro de ter prejudicado ninguém.

Aqui no Crimeia fiz muitos amigos que já não estão mais entre nós e que foram importantes para o setor. Tem o seu Sebastião, seu pai né Sinval. Pedro Gordo que morava em frente da minha casa. Dr. Isaac, o primeiro dentista da região. Seu João Bastos, pai do Letão. Seu Damásio, grande marceneiro. O Natal, dono do time de futebol. Miguel Severiano. Delô carpinteiro. Eupides pedreiro. Seu Francisco e dona Francisca da rua General Braz Abrantes, tenente Gerson e sargento Luís. Peba, irmão do Afonso. Roosevelt. Seu Degundes. Cícero açougueiro e muitos outros que não me vem à memória agora e que tenho saudades quando começo a lembrar do passado. Agradeço de coração ao Jornal Crimeia por divulgar a nossa história. Muito obrigado.



Apresentação:




“Este projeto foi contemplado pelo Edital de Arte nos Pontos de Cultura Aldir Blanc - Concurso nº 02/2021-SECULT-GOIÁS – Secretaria de Cultura - Governo Federal"

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