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ÁLVARO NEGRO - Dayse Kênya

Atualizado: 8 de dez. de 2023

Segunda Literária no #entocados




ÁLVARO NEGRO



É uma flor assim...assim...

Se comporta

ora como cravo...

ora como rosa...

ora como alecrim.

Não se conforma de ser uma flor

quer mesmo é ser todo o jardim!


Ser Álvaro de Campos

aberto a todos os campos

como um aprendiz de Alberto Caeiro

em desespero.


Alvo campo de orquídeas

que um dia cisma ser cativeiro;

não se contenta mais com seus prados

emprestados

tão encantados!


e sai a esmo

querendo ser você mesmo.


Fênix é muito pouco

pra quem quer renascer renascido;

você quer ser Romeu mais Julieta

mais cupido.

De quebra ser o elenco todo e já ter sido

antes que o verbo ser fosse parido.


Quer dois pássaros na mão e vocês três voando.

Ser a santa do altar e o bandido;

o filme queimado e o exibido.

Só de entrada pra seu apetite imoral insano infinito!


Quer ser o tal

se não levarem a mal.

Se levarem

baubau.

Por via das dívidas ser perdoado

pela indigência de seu estado.


Um estado assim assado... de nada um bocado!

Garrafa que falhou de dar o seu recado

num mar deserto e sem fim.

Você é a nódoa no brim

expelida por qualquer poeta

arcanjo maldito

assim;


digno alvo do arremesso escatológico

dirigido à Geni

do Zeppelin.


Você não tem compostura!

Você é maldito até na doçura.

Flor dúbia de Campos sem fim...


O livre arbítrio não nos livra do mito

que a escolha certa é Deus

e o Diabo é proibido.


Mas seu peito insatisfeito inventou de abraçar escondido

um menino Fausto dividido

entre mil pedidos!

Criança caprichosa sempre a exigir sempre a exigir

a exigir exigir exigir

de sua perspicácia grandiosa!


Sabe que dói ver as coisas com olhos de poeta.

Esse olhar impertinente que vê tanto

chega cega.

Sabe o quanto dói essa entrega!!!


Ah... coração lírico sossega!

Deixa pra Deus esse visionarismo de merda!

Quem sabe ele acerta.


Essa não! Tá condenado.

Olha só a marca:

Coração Poeta!


Desfilando suas falhas itinerárias

não escolhe foco

é o cemitério

é a festa.


Cu do mund (sem a superfície)

; que pode não ser mal cheirosa

mas é mentirosa.


Assim

você se faz em avesso.


A que preço!


Dayse Kênya, no livro “O Talhe”. 2015.




♦ Poeta, ex-publicitária e artista plástica Dayse Kênya cursou Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás e apresentou “Monólogo de muitos” como seu trabalho de conclusão de curso, onde a poeta faz um mergulho na personalidade prolixa de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, que apresenta vários conflitos pessoais e de sua relação com o mundo: “Multipliquei para me sentir, para me sentir precisei sentir tudo”. Dayse tem mais de 30 premiações em concursos de poesia, desde 1989, entre eles, a participação na Antologia Nacional Gilberto Mendonça Teles, em 1993, com o poema “Fóssil agônico”, o primeiro lugar no concurso Kelps de poesia falada, em 2004, com o poema “Das duas, duas” e tem seu livro “Talhe verbal”, premiado em 2º lugar pelo concurso Novos Valores da Fundação Jaime Câmara. Em 2015 lançou 1000 exemplares de seu livro de poesias “O Talhe”, já em 2021 lançou seu mais recente livro “CEM MAIS para o momento”, ambos publicado pela Editora Kelps e muito bem recebidos pelos leitores.


Apresentação:




“Este projeto foi contemplado pelo Edital de Arte nos Pontos de Cultura Aldir Blanc - Concurso nº 02/2021-SECULT-GOIÁS – Secretaria de Cultura - Governo Federal".



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