Segunda Literária no #entocados
ÁLVARO NEGRO
É uma flor assim...assim...
Se comporta
ora como cravo...
ora como rosa...
ora como alecrim.
Não se conforma de ser uma flor
quer mesmo é ser todo o jardim!
Ser Álvaro de Campos
aberto a todos os campos
como um aprendiz de Alberto Caeiro
em desespero.
Alvo campo de orquídeas
que um dia cisma ser cativeiro;
não se contenta mais com seus prados
emprestados
tão encantados!
e sai a esmo
querendo ser você mesmo.
Fênix é muito pouco
pra quem quer renascer renascido;
você quer ser Romeu mais Julieta
mais cupido.
De quebra ser o elenco todo e já ter sido
antes que o verbo ser fosse parido.
Quer dois pássaros na mão e vocês três voando.
Ser a santa do altar e o bandido;
o filme queimado e o exibido.
Só de entrada pra seu apetite imoral insano infinito!
Quer ser o tal
se não levarem a mal.
Se levarem
baubau.
Por via das dívidas ser perdoado
pela indigência de seu estado.
Um estado assim assado... de nada um bocado!
Garrafa que falhou de dar o seu recado
num mar deserto e sem fim.
Você é a nódoa no brim
expelida por qualquer poeta
arcanjo maldito
assim;
digno alvo do arremesso escatológico
dirigido à Geni
do Zeppelin.
Você não tem compostura!
Você é maldito até na doçura.
Flor dúbia de Campos sem fim...
O livre arbítrio não nos livra do mito
que a escolha certa é Deus
e o Diabo é proibido.
Mas seu peito insatisfeito inventou de abraçar escondido
um menino Fausto dividido
entre mil pedidos!
Criança caprichosa sempre a exigir sempre a exigir
a exigir exigir exigir
de sua perspicácia grandiosa!
Sabe que dói ver as coisas com olhos de poeta.
Esse olhar impertinente que vê tanto
chega cega.
Sabe o quanto dói essa entrega!!!
Ah... coração lírico sossega!
Deixa pra Deus esse visionarismo de merda!
Quem sabe ele acerta.
Essa não! Tá condenado.
Olha só a marca:
Coração Poeta!
Desfilando suas falhas itinerárias
não escolhe foco
é o cemitério
é a festa.
Cu do mund (sem a superfície)
; que pode não ser mal cheirosa
mas é mentirosa.
Assim
você se faz em avesso.
A que preço!
Dayse Kênya, no livro “O Talhe”. 2015.
♦ Poeta, ex-publicitária e artista plástica Dayse Kênya cursou Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás e apresentou “Monólogo de muitos” como seu trabalho de conclusão de curso, onde a poeta faz um mergulho na personalidade prolixa de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, que apresenta vários conflitos pessoais e de sua relação com o mundo: “Multipliquei para me sentir, para me sentir precisei sentir tudo”. Dayse tem mais de 30 premiações em concursos de poesia, desde 1989, entre eles, a participação na Antologia Nacional Gilberto Mendonça Teles, em 1993, com o poema “Fóssil agônico”, o primeiro lugar no concurso Kelps de poesia falada, em 2004, com o poema “Das duas, duas” e tem seu livro “Talhe verbal”, premiado em 2º lugar pelo concurso Novos Valores da Fundação Jaime Câmara. Em 2015 lançou 1000 exemplares de seu livro de poesias “O Talhe”, já em 2021 lançou seu mais recente livro “CEM MAIS para o momento”, ambos publicado pela Editora Kelps e muito bem recebidos pelos leitores.
Apresentação:
“Este projeto foi contemplado pelo Edital de Arte nos Pontos de Cultura Aldir Blanc - Concurso nº 02/2021-SECULT-GOIÁS – Secretaria de Cultura - Governo Federal".
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